MNCR presente no Fórum Social Temático em POA

Por Alex Cardoso

Catadores de materiais recicláveis organizados no MNCR de diversas regiões do Estado do Rio Grande do Sul, contando com delegação dos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, participaram da marcha de abertura do Fórum Social Temático (FST) que aconteceu em Porto Alegre no dia 24 de janeiro. As reivindicações eram contra a Incineração dos resíduos sólidos e a favor da coleta seletiva solidaria, com inclusão dos catadores e o pagamento pelos serviços. A marcha contou com mais de 300 catadores e catadoras, que juntamente com outros movimentos sociais, reivindicarão a inclusão social, o avanço e reconhecimento da economia solidaria que de fato acontece nas bases do MNCR.

Com palavras de ordem, bandeiras, cartazes, faixas, informativos, adesivos, além de camisetas e bonés do MNCR, os catadores chamavam muita atenção das pessoas que passavam, pois esta é a segunda marcha realizada pelo MNCR com caráter de resistência contra a incineração para esclarecimento da população. “Este é um momento importante para nós catadores de reafirmar a nossa resistência contra a incineração dos resíduos” falou o catador Tank Menezes, militante do MNCR. Enquanto acontecia a marcha, uma equipe de catadores foi às ruas para conversar com a população sobre a incineração dos resíduos, relata Adriana Escobar, catadora da Base da Cavalhada: “a sociedade esta do nosso lado, aqui em Porto alegre já faz parte da cultura separar os resíduos e encaminhar para a reciclagem, todos sabem do valor que se cria a partir da reciclagem fazendo a geração de trabalho, a economia de energia e a garantia de trabalho de milhões de pessoas que trabalham no ciclo produtivo dos materiais recicláveis”.

 

Segundo Alex Cardoso, militante do MNCR, que esta acompanhando de perto os movimentos da Prefeitura de Porto Alegre, que quer instalar uma planta municipal de tratamento de resíduos sólidos para de 1600 toneladas dia. “Hoje estamos deixando claro que queremos que estes resíduos que são gerados na cidade sejam usados para geração de trabalho e renda para os catadores de materiais recicláveis, pois estamos as vésperas da proibição da circulação dos catadores de rua.”

Cadeia produtiva do PET

No dia 26, o MNCR participou do ato de assinatura de documentos sobre a intenção de realizar a cadeia solidaria do PET em todo o estado do Rio Grande do Sul. O ato aconteceu no palácio Piratini, sede do governo estadual e teve a participação de 250 catadores. “Para nós é um momento em que os catadores do Estado avançaram, pois é um avanço na cadeia produtiva dos materiais plásticos, que vem para aumentar a reciclagem destes materiais, vai envolver muitos municípios e será exemplo para o Brasil e o mundo que os catadores podem de fato assumir a cadeia produtiva dos recicláveis”, disse Alex Cardoso. Com o término deste ato, foi realizado uma plenária estadual, com a participação dos catadores dos outros Estados que estavam presentes. Nesta plenária, trabalhou-se o diagnóstico de problemas a enfrentar nos municípios e nas organizações. Entendeu-se que a maior dificuldade para a maioria dos municípios é a infraestrutura para trabalhar, pois a maioria dos galpões no Estado estão sucateados e apenas dois municípios pagam os catadores pelo serviços. O encaminhamento foi de montar um planejamento mínimo, para este ano os catadores possam diagnosticar seus problemas e assim o MNCR possa dar os encaminhamentos.

Outra demanda foi a luta pelo reconhecimento dos catadores nos sistemas convencionais de coleta seletiva e seu devido pagamento, além de fazer a resistência contra os incineradores de resíduos sólidos. Na avaliação da plenária, é mais barato os catadores realizarem a coleta seletiva e dar o destino final correto para a reciclagem do que, ao invés disso, as prefeituras instalarem plantas de incineradores. Decidiu-se pela participação de todos na plenária “incineração na contramão da sustentabilidade” e de visitar uma base orgânica do MNCR em Porto Alegre.

Na parte da tarde, 80 catadores visitaram a base orgânica ASCAT, onde viram o funcionamento interno do trabalho, o esquema de organização e a participação da base no MNCR. Por final realizamos uma conversa sobre a gestão administrativa e coordenação interna da base. Foi importante, porque cerca de 40 catadores que estavam presentes ainda trabalham em lixão sem infraestrutura nenhuma. “Foi muito importante esta visita para que todos os catadores pudessem ver que é possível a administração e a coordenação ser viável com o protagonismo e total autonomia dos catadores organizados”, disse a catadora Maria Tujira, da Base do lixão de Uruguaiana. A catadora da cidade de Jaguarão, falou “não pensava que era possível ser assim, tão fácil trabalhar em harmonia, somente entre catadores, sem a gerencia de apoiadores”.

A Base ASCAT é um centro de referencia estadual para o MNCR, pois trabalha inteiramente com catadores e toda a gestão e executada pelos mesmos, alem de ter formas e maneiras dinâmicas de trabalho e gestão participativa. A catadora Eva Saraiva, a mais velha da Base falou, “aqui, todos trabalham, a coordenação tem que trabalhar mais ainda, pois é um companheiro igual a nós, apenas com mais tarefas” com alegria comentou “o companheiro Alex estava em um dia em São Paulo reunido com a Presidenta Dilma e um monte de Ministros, e no outro estava aqui, trabalhando” e sorrindo finalizou “e a gente cobrando ele, pois estava com o trabalho atrasado”, fazendo menção que o reconhecimento na Base é pelo trabalho e pelo comprometimento.

Oficina sobre incineração de lixo

No final da tarde, às 17hs, foi realizado o seminário “Incineração na contramão da sustentabilidade”, na usina do Gasômetro e teve a participação de mais de 300 pessoas entre catadores e sociedade civil. Neste seminário contamos com a presença do assessor técnico no MNCR contra a incineração André Abreu, que também representa a France Libertés (uma organização de defesa dos povos que tem sede na Franca criada por Danielle Mitterrand, ex primeira dama da França, grande defensora das causas ambientais e sociais e infelizmente falecida em novembro do ano passado) um articulador do MNCR Alex Cardoso que é membro da comissão nacional do MNCR e da equipe nacional anti-incineração, a representante da Economia Solidaria do Estado, Nelsa Nespolo, o representante da Itaipu Binacional kotz e representante do governo federal.

Em avaliação geral de todos estes atores, a incineração de fato vem na contramão da inclusão dos catadores em sistemas formais e reconhecidos. A incineração e a forma mais cara de tratamento, se tratando de Brasil e o processo e privatização dos resíduos, além do endividamento das prefeituras por mais de 20 anos.

A incineração traz vários riscos à saúde humana e do planeta. Cchega a ser 4 vezes mais cara que a reciclagem e não gera postos de trabalho. Conforme avalia André “com a incineração há o fim da matéria, ao contrario do que é a reciclagem, além de incidir no endividamento dos municípios, como aconteceu na França”.