Reciclagem Popular: MNCR avança comercialização solidária interestadual

mncr
Publicado 06/04/2015 14:25 Última modificação 06/04/2015 14:33

06-04-2015

O sonho dos catadores de materiais recicláveis de pular os atravessadores na comercialização de materiais está se tornando realidade. A mais nova indústria de beneficiamento de recicláveis de propriedade dos próprios trabalhadores instalada em Pinhais, cidade próxima a Curitiba, no Paraná, está dando um grande passo nesse sentido. A Rede Cata Paraná, que reúne 30 grupos e cooperativas de catadores e beneficia diretamente 600 catadores associados, começou a transformar as garrafas PET, comuns em embalagens de refrigerantes, em matéria-prima pronta para a indústria, produto conhecido com Flak.

Recentemente, a Rede Cata Paraná extrapolou a atuação dentro do estado do Paraná e passou a beneficiar também redes de cooperativas do estado de São Paulo comprando o PET por preços melhores que os oferecidos pelos atravessadores.

A Rede Coopercop – parceria de cooperativas da região do Oeste Paulista –, que já existe há dois anos, realizou a primeira transação com o envio de carreta com 18 toneladas de PET para o Paraná. A negociação proporcionou ganho de 70% para as cooperativas de catadores do Oeste Paulista, já descontados os impostos e o custo de transporte. Outra rede de cooperativas do estado de São Paulo que já comercializa com a Rede Cata Paraná é a Rede Solidária Cata-Vida, da região de Sorocaba.

“Outras redes, em que já há uma conversação – e espera-se que cheguemos a concretizar a comercialização conjunta de PET –, estão localizadas em Brasília, São Paulo (capital), Campinas, Mato Grosso e, por último, recebemos o interesse de uma rede no estado de Goiás”, comenta Carlos Alencastro Cavalcanti, catador representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) no Estado do Paraná.

Segundo Carlos, a produtividade da indústria em Pinhais é de 1,5 toneladas por hora, podendo atingir até 600 toneladas de PET por mês. A produção de Flak valoriza o material em até 100% e o produto se transformará em embalagens de bolo, cerdas de escovas, cordas, cobertores, roupas, entre outros produtos.

“Alguns desafios das redes de cooperativas de catadores são de manter os níveis de qualidade dos materiais e a tributação, pois somos obrigados a pagar o ICMS na comercialização interestadual. A logística também é um importante desafio, considerando o impacto que o preço do frete acarreta na composição do custo operacional, mas, sem dúvida, o principal desafio é o capital de giro, visto que não existem linhas de financiamento adequado a empreendimentos da economia solidária”, avaliou Carlos Cavalcanti.

A estratégia do MNCR de organização dos catadores em cooperativas e associações de primeiro nível e em redes de cooperativas de segundo nível permite fugir da exploração do mercado de recicláveis, proporcionando melhores preços e qualidade de vida para os catadores. No entanto, essa estratégia ainda esbarra em barreiras tributárias sérias por falta de uma legislação que diferencie empreendimentos que visam lucro daqueles que não têm fins lucrativos, como é o caso de empreendimentos da economia solidária.