Famílias de catadores do Glicério são despejadas

Um grupo de 27 famílias de catadores que ocupavam um prédio público abandonado na região do Glicério, centro de São Paulo, foi despejado na manhã da ultima sexta-feira pela Subprefeitura da Sé e pela Guarda Civil Metropolitana. Os catadores foram acordados às 6:30h da manhã pelos funcionário da Prefeitura Daniel Salati Marcondes, Coordenador de Planejamento Urbano, e Joceli Adair da Silva, coordenador de projetos,  que invadiram o local e de forma truculenta ordenaram a saída das famílias.

“Acordei com o Daniel Saladi e Joceli chutando as portas e quebrando tudo. Os funcionários da Prefeitura já vieram com pés de cabra e começaram a arrombar as portas e tirar as coisas” relatou a catadora Alexandra que tem três filhos pequenos. As famílias informaram que pertences foram quebrados por esses dois funcionários que coorrdenaram a ação.

Os moveis dos catadores foram arremessados pelas janelas do prédio em cima dos caminhões, os pertences amontoados e misturados em vários locais. Apesar do transporte da Prefeitura, várias famílias não tinham para onde levar seus pertences.

Por volta das 8 horas começou a chegar a impressa e apoiadores, o que intimidou a ação truculenta da GCM, houve a tentativa de impedir o acesso de jornalistas ao local. Dezenas de famílias se negavam sair até que fosse oferecida uma alternativa. Dois catadores militantes do Movimento Nacional dos Catadores (MNCR) foram detidos e encaminhados ao 1º DP onde foram liberados por volta das 12 horas.

Por volta das 11 horas o prédio já estava completamente desocupado, mas as famílias recusavam-se em deixar o terreno. Viaturas da policia militar começaram a chegar e havia um clima de tensão. Sem respostas e visivelmente desorientados, os funcionários da Prefeitura anunciaram uma falsa reunião na Secretaria de Assistência Social. As 27 famílias tiveram de aguardar o resto da tarde até serem atendidas para ouvir apenas “Não temos o que fazer” da coordenadora de assistência social. Foram oferecidas vagas em albergues por 3 dias, as famílias recusaram. “Não queremos cestas básicas e albergues, queremos moradia” declara indignada Alexandra.

As famílias tinham um prazo até dia 28 para deixar o local, um acordo firmado em reunião com o Subprefeito Amauri Luiz Pastorello. Os catadores denunciam que tentaram diversas vezes marcar reuniões com o subprefeito para resolver o problema de moradia das famílias, mas não foram atendidos.

O prédio ocupado, apelidado na região como esqueleto, é uma obra inacabada e em ruínas da Prefeitura de São Paulo. Já foi desocupada dezenas de vezes, mas continua ociosa. Segundo funcionários da Prefeitura o prédio será demolido, transformando em pó o dinheiro público enquanto dezenas de famílias têm de permanecer nas ruas e locais impróprios.  

 

Sustentabilidade

Em conversa com funcionários da prefeitura e apoiadores Givanildo Silva Santos, membro do MNCR, explica a situação em que vivem. Trabalhando em baixo do viaduto os catadores não conseguem organizar o trabalho, não há espaço para armazenamento do material coletado, nem maquinário e infra-estrutura básica para o grupo se desenvolver. “Se a prefeitura apoiasse nosso trabalho, cedendo um terreno ou galpão para a cooperativa, poderíamos melhorar nossa renda e financiar uma moradia” declara. Segundo Santos, há diversas fontes de investimento que podem contribuir com a estruturação da cooperativa, mas sem um galpão adequado é impossível obter esse tipo de financiamento.