Falta material reciclável para os catadores. O que a Prefeitura tem com isso?

mncr
Publicado 01/08/2016 18:20 Última modificação 01/08/2016 18:22

A face mais cruel da crise econômica pode ser observada no cotidiano dos catadores de materiais recicláveis. Nos últimos 4 meses houve um queda vertiginosa no volume de materiais recicláveis que chegam nas mãos desses trabalhadores e trabalhadoras. A crise é apontada como causa principal da escassez, no entanto, os serviços públicos de limpeza ainda encaminham a maior parte dos recicláveis para aterramento.

“Isso nunca tinha acontecido antes. Chega as 3 horas da tarde e já não tem mais material para trabalhar. Temos que ir para casa mais cedo. É desesperador, pois sabemos que se não tem produção não tem renda no final do mês”, relatou Pedro da Cooperativa União, da Zona Leste de São Paulo.

As cooperativas de catadores também experimentaram situação inédita e triste de ter de dispensar cooperados por falta de materiais, como é o caso da Cooperativa União que realizou assembleia em aprovando essa medida drástica. Em outros grupos parte dos cooperados têm deixado o trabalho espontaneamente, a pesar do desemprego. "Quando não se tem materiais para trabalhar nossa renda baixa e alguns companheiros não conseguem suportar e param de trabalhar", relata a catadora que não quis se identificar.

A situação não se restringe a cidade de São Paulo, é observada em todas as regiões do Brasil. Em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, as 20 organizações de catadores sofre com o mesmo problema. Na última reunião no Departamento Municipal de Limpeza Urbana os catadores e catadoras de materiais recicláveis pressionaram a prefeitura para ter acesso a mais materiais recicláveis da coleta seletiva. O diretor adjunto do DMLU, Vercidino Albarelo, culpa a crise econômica que diminuiu o consumo da população, além dos catadores individuais que passam antes dos caminhões da Prefeitura. Já as organizações de catadores reforçam que para ter materiais nos galpões é preciso que os catadores façam a coleta seletiva porta a porta, uma reivindicação antiga da categoria, no entanto, a prefeitura foge da negociação.

"Não sei o que eles têm com a iniciativa privada que não querem nos entregar a gestão da coleta seletiva" desabafa um dos catadores presente na reunião.

Em todo o Brasil a queda no volume de materiais é de cerca de 40% em todos os tipos de materiais. A renda mensal dos catadores e catadoras caiu, em muitas regiões, até 60%, isso por conta também da baixa nos preços praticados pelos atravessadores que atribuem a baixa dos valores a crise econômica.

Os catadores de todo Brasil ainda precisam disputar os recicláveis com concorrentes. “Os materiais do comércio estão sendo comercializados pelos próprios empresários. Esta havendo concorrência com os garis e empresários e até com algumas iniciativas de bonificam os moradores em troca de recicláveis. Os atravessadores estão coletando em grandes geradores em virtudes da estrutura disponível”, relata a catadora Egrinalda Santos, representante do MNCR no Estado de Alagoas.

Com o aumento do desemprego a disputa por materiais recicláveis nas ruas também é grande. Os catadores que trabalham individualmente têm percorrido longas distâncias para encontrar os materiais nas ruas.

 

Falta política pública

A falta de apoio do poder público na execução da Coleta Seletiva é um fator importante que fragiliza e mantém os catadores e catadoras sempre com a corda no pescoço. Enquanto as empreiteira continuam recebendo o mesmo valor apesar da baixa na quantidade de resíduos gerados pela população, os catadores dependem exclusivamente do valor de venda dos recicláveis. E até nos casos em que há algum tipo de apoio público sua renda fica instável em momentos de crise como a que vivemos.

Em todo o país as Prefeituras não conseguiram passar de 3% o nível de reciclagem dos resíduos sólidos residenciais. Essa ineficiência é causada principalmente pelos contratos que privatizam os serviços de coleta seletiva, deixando a cargo das empresas a coleta. É o caso, por exemplo, da cidade de São Paulo que possui uma PPP (Parceria Público-Privado) que mantém a cidade refém de um contrato de 20 anos com duas empresas. A coleta seletiva no município não avança, pois o serviço de coleta oferecido pelas empresas é inviável para a reciclagem por destruir o material e não investir em educação ambiental dos moradores, apesar do contrato prever 1% do valor pago para essa finalidade.