Evento busca melhorar saúde e inclusão do catador(a)

Catadores de cooperativas ligadas à Rede Cata Sampa e ao Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) participaram, no sábado (14), da segunda edição do 'Projeto Catadores Saudáveis', realizado pela Prefeitura de São Paulo, em parceria com a Atenção Primária à Saúde Santa Marcelina (entidade filantrópica) e o Programa Ambientes Verdes e Saudáveis (PAVS), em São Mateus.

O projeto busca promover a saúde e a melhoria da qualidade de vida dos catadores de materiais recicláveis por meio de ações integradas de prevenção, informação e até manutenção de suas carroças, a exemplo do projeto Pimp My Carroça.

As ações visam melhorar a autoestima dos catadores, bem como levar a eles informações sobre direitos, deveres, cidadania e meio ambiente. Outra perspectiva da iniciativa é a implantação da coleta seletiva de resíduos recicláveis na área de abrangência das unidades básicas de saúde e sensibilizar a comunidade quanto à importância dessa prática ecologicamente correta.

Durante todo o sábado, orientadores do projeto grafitaram os carrinhos dos catadores que, depois de pintados, receberam uma plaqueta com os dizeres 'Separamos o nosso lixo. Esta família preserva o Meio Ambiente'. Enquanto isso, equipes das chamadas Unidade Básica de Saúde (UBS) realizavam aferição de pressão arterial e teste de glicemia nos catadores, bem como aplicavam vacina contra hepatite e tétano, respectivamente.

Houve ainda distribuição de calçados de segurança, creme protetor para a pele, gel repelente de insetos, camisinha e folders educativos de prevenção a doenças como dengue e AIDS. Um consultório odontológico móvel realizou exame clínico bucal nos catadores e distribuiu creme dental. Painéis com fotos do cotidiano de catadores e exposição de materiais que podem ser recicláveis dividiram o espaço com os participantes das atividades, que contaram com distribuição de água, suco e lanche, além de algodão doce e pintura facial, para alegria da criançada.

A supervisora técnica da Coordenadoria Regional de Saúde Leste, Márcia de Oliveira Novaes, disse que a intenção do projeto é evitar uma relação de dependência com o médico e trabalhar a sensibilidade por meio de vínculos de confiança, mostrando que todos têm o direito ao Sistema Único de Saúde (SUS).

"Todas as pessoas, principalmente o catador, que é o nosso foco aqui, precisam estar dentro do sistema como um todo, fazer planejamento familiar e saber dos direitos que têm em relação à saúde. Não que sejam obrigados a fazer, mas precisam saber que podem acessar a Saúde para melhoria de sua qualidade de vida. É um direito deles o conhecimento e a informação", explicou.

As atividades contaram ainda com a presença do catador Eduardo Ferreira de Paula (Dudu), representante do MNCR, o qual afirmou que o projeto demonstra a preocupação de vários atores sociais com as questões socioambientais, incluindo um olhar mais humano em relação às condições reais dos catadores em processo de vulnerabilidade social.

"O evento foi muito legal e está chamando à responsabilidade a sociedade e o poder público, para que reconheçam e colaborem com o trabalho dos catadores e os parceiros do Projeto Catadores Saudáveis. O catador, a sociedade civil e a comunidade, com certeza vieram trazer uma questão de preocupação com o meio ambiente e a saúde do catador, além da valorização da categoria", disse.

De opinião semelhante, a catadora Selma Maria da Silva, da Cooperativa Nova Esperança e representante do MNCR, afirmou que o evento trouxe um vínculo com os catadores informais da localidade, fator que oferece condições para que eles conheçam o trabalho político e social da categoria, se organizem e tenham, além de uma saúde digna, acesso à moradia, cidadania e cultura.

"Precisamos unir nossas forças com as forças deles, para que tenham um trabalho digno, de catadores organizados nas bases. Estamos na luta, tentando receber pelo nosso trabalho prestado ao meio ambiente, mas também queremos que os companheiros que estão lá na ponta venham também para dentro dessa bandeira", disse, salientando ter observado que a Saúde local está preocupada com o bem-estar do catador.

"Já temos dentro das cooperativas ações de atenção à saúde do catador, que têm trazido muitos benefícios a nós. Todos esses exames que foram feitos hoje é uma coisa muito boa para nós, que vivemos em situação de catação", concluiu. Além de membros da Nova Esperança, o evento teve representantes das cooperativas Cooper Leste e Chico Mendes.

 

Projeto Cata Rua

Educadores do Projeto Cata Rua - realizado pelo Instituto Cata Sampa em parceria com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) – também fizeram presença e participaram das atividades, que atraíram aproximadamente 50 catadores, além de membros da comunidade e demais parceiros a um amplo salão situado no Parque Boa Esperança, em São Mateus.

O Projeto Cata Rua tem por objetivo promover a inclusão produtiva dos catadores de materiais recicláveis em situação de extrema vulnerabilidade social e organizá-los em empreendimentos econômicos solidários, como redes de cooperativas e associações.

De acordo com a catadora Selma, o projeto Cata Rua já se organiza em São Mateus, com muitos parceiros engajados na organização desses catadores na região, inclusive, os postos de Saúde. "Apesar de a subprefeitura não ter os dados desses companheiros, eles nos deram muita atenção e estamos trabalhando junto com os parceiros do Projeto Ambientes Verdes e Saudáveis", disse.

A supervisora Márcia sugeriu que a formalização de cooperativas de catadores em São Mateus, pelo Projeto Cata Rua, seja incluída na rede de proteção social gerida pela subprefeitura, uma vez que, para ela, o trabalho em grupo é fundamental para a sustentabilidade.

"Essa população tem o direito de receber todo o apoio do poder público para se fortalecer. Nossa grande questão é trabalhar com a autonomia das pessoas, tanto na saúde quanto na sustentabilidade da rede de economia solidária", frisou.

Um dos apoiadores do evento, Angelo Iervolino, diretor de Meio Ambiente do Fórum para o Desenvolvimento da Zona Leste e presidente da organização Sociedade Ambientalista Leste (SAL), enalteceu a importância do projeto Cata Rua para os catadores que atuam na informalidade, uma vez que têm dificuldade em se organizar.

"Esse projeto (Cata Rua) é muito importante. Somos defensores de que esses catadores individualizados, que estão na rua, tenham um amparo maior. Desde 2000 nossa entidade está fazendo contatos com eles, para que minimamente se organizem e tenham direito a tudo que vai acontecer no futuro, que esperamos nesse novo Governo em São Paulo. Nós estamos para acrescentar e desenvolver melhor essa questão da coleta seletiva. Nós somos parceiros do Cata Sampa e o importante é a troca de experiências", afirmou.

Ex-líder comunitária e integrante do Conselho Gestor de Saúde da UBS do bairro Jardim da Conquista III, bem como membro do Conselho Gestor de Saúde do CEU São Mateus, Deise Achilles apontou que a própria sociedade marginaliza os catadores nas ruas e não vê que eles recolhem o lixo que ela gerou. Achilles defende uma vida mais digna a esses trabalhadores que, segundo ela, calçam sapatos inadequados e não usam luvas, entre outros fatores, já que o pouco valor obtido com a venda de materiais recicláveis é empregado no sustento da família.

"Eu até que iria mais longe, de se fazer um projeto através de deputados federais para que houvesse a distribuição de uma renda para os catadores, através do Governo Federal. Temos que socializá-los para depois resgatá-los", disse.

O gerente da UBS do bairro Jardim da Conquista III, Fábio Bellucci Leite, também defende a promoção de inclusão e saúde aos catadores, os quais, segundo ele, tiveram prazer em participar do evento. "O importante é isso, sabermos que estamos promovendo a inclusão social dos maiores agentes ambientais desse país, que não são remunerados. Temos a obrigação de agradecer aos catadores pelo papel fundamental que eles fazem na sociedade", disse.

Da mesma forma, Thiago Nogueira Martins Ferreira, gerente da UBS do Jardim da Conquista I, afirmou que os catadores são agentes ambientais invisíveis e o fato de se debater a questão ambiental e o papel do catador traz à tona esse problema que se evidencia no dia a dia. "O mais importante é que saímos daquele modelo de que a saúde é só tratar. O enfoque que estamos tentando dar é tratar a saúde de uma forma mais ampla e fornecer condições de a própria pessoa ter o mínimo para poder se cuidar, com orientação à família. Não é só ficar focando na questão de promover assistência", afirmou.

Uma das agentes de Promoção Ambiental da UBS do bairro Jardim da Conquista II, Ivonete Gomes da Silva ficou satisfeita ao participar, pela primeira vez, da promoção de atividades junto aos catadores. "Eu achei a iniciativa muito boa, por ser em prol dos catadores, que já contribuem com o meio ambiente através da reciclagem", disse.

Grupos musicais animaram os expectadores, que aproveitaram o embalo para dançar ao som de rap e forró, entre outros. O cantor Neto Brasil, da banda Forró Chave de Ouro, desceu do palco e interagiu com os catadores, agentes de saúde e demais pessoas. "Eu trabalho com cidadania e quero agregar meu projeto musical à questão social. Acho válido esse trabalho de orientação e apoio aos catadores, na questão da saúde e na questão ambiental. Eu valorizo e estou com eles", disse.