Juízes Federais visitam cooperativa em São Paulo

Na manhã de quarta-feira (18), um grupo de 23 juízes federais recém-formados pela Escola de Magistrados (EMAG) da Justiça Federal da 3ª Região visitou as instalações da cooperativa Vitória do Belém, no bairro Belém, em São Paulo. Os magistrados foram recebidos por representantes da cooperativa, da Associação Reciclalázaro e por membros da Associação Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (ANCAT).

Após participarem de uma palestra sobre o método de trabalho da cooperativa e trocarem experiências sobre os desafios e conquistas dos catadores, os jovens juízes conheceram de perto o processo de armazenamento, triagem, prensagem e comercialização dos produtos coletados na cidade.

O grupo foi acompanhado pelo desembargador federal e diretor da EMAG, José Marcos Lunardelli; pela desembargadora federal Consuelo Moromizato Yoshida; pela juíza federal Renata Andrade Lotufo e pelo professor de Direito Diogo de Sant’ Ana.

A visita dos novos juízes faz parte de uma nova metodologia do curso de formação, que combina aulas teóricas e visitas em locais importantes para a realidade dos juízes. Nesse caso, eles decidiram fazer uma visita numa cooperativa de catadores.

Segundo o desembargador José Marcos, a visita à cooperativa foi uma boa experiência de formação para os novos juízes, ao conhecerem de perto o processo de reciclagem dos resíduos.

“Estamos muito felizes em poder conhecer o trabalho da cooperativa Vitória do Belém. Para nós era um trabalho desconhecido. É sabido do papel dos catadores na reciclagem, mas não conhecíamos as dificuldades, a complexidade que é uma estrutura formal como essa funcionar, a história de vida e de luta das pessoas que trabalham aqui. Nós agradecemos muito a cooperativa por essa oportunidade”, afirmou.

Para a desembargadora Consuelo Yoshida é muito importante que os novos juízes conheçam na prática o que acontece numa cooperativa bem estruturada de catadores, embora não seja a realidade de todas as cooperativas.

“Para esses juízes que estão começando, ver o que sobra do nosso lixo e como ele pode ter um ciclo maior de vida é muito importante. Para que os juízes conheçam a realidade e vejam a dificuldade desses catadores, agora organizados em cooperativas, para que eles tenham uma qualidade melhor de vida e sejam beneficiados com esse trabalho”.

Ela ainda ressaltou a importância de as instituições abraçarem a causa dos catadores, como a Defensoria Pública, bem como o trabalho voluntário de escritórios de advocacia para auxiliar na regularização de associações e cooperativas.

Presente ao evento, o presidente da ANCAT, Roberto Laureano da Rocha, frisou que o momento com os novos juízes é importante para eles conhecerem um pouco como funciona uma cooperativa de catadores.

“A gente vê que isso é um marco histórico para o conhecimento do trabalho dos catadores e esperamos que os novos juízes possam contribuir com a inclusão sócio-produtiva desses trabalhadores”, ressaltou.

“Estamos muito felizes com a presença dos futuros juízes aqui, conhecendo a realidade das cooperativas de catadores e catadoras do Brasil”, disse, por sua vez, o professor Sant’Ana.

Durante o evento, a presidente da cooperativa, Juliana da Silva, contou sua trajetória de vida e sua experiência como catadora individual, antes de se organizar em cooperativa.

“A gente agradece muito por ter juízes desembargadores aqui, conhecendo a realidade de uma cooperativa, vendo como está a situação hoje aqui no Estado de São Paulo, o que nós necessitamos, quais são as nossas dificuldades. Foi ricamente uma troca de informações, entre elas entender um pouco da nossa realidade”, afirmou.

Juiz federal substituto, recém ingressado no Tribunal Regional da 3ª Região, o jovem Caio César Maia de Oliveira frisou que os conselheiros e especialistas de Justiça defendem que, na formação de juízes e juízas, os mesmos sejam pessoas com convivência e conhecimento do que se passa na sociedade na qual estão inseridos e vão exercer as suas funções.

“Essa visita serviu para nos conscientizar de que o consumo desenfreado é insustentável e que medidas como essa, como a existência dessa cooperativa, precisam ser estimuladas, fomentadas, fortalecidas, para que haja uma via de escape desse sistema que pode tornar a vida humana na Terra absolutamente inviável”, destacou.

Juíza federal antiga, Renata Andrade faz parte da coordenação do curso de formação inicial. Para ela, a visita pode dar sempre novas ideias para o dia a dia do juiz. “Desde o momento em que o juiz, por exemplo, for administrar um fórum e tiver uma demanda do que fazer com o papel reciclável do fórum até um caso judicial propriamente dito”, exemplificou.

De acordo com Marli de Fátima Aguiar, técnica da ANCAT, o contato direto dos juízes recém-formados com os trabalhadores de materiais recicláveis é um desafio para eles saíram conscientes da importância da educação ambiental.

“Esse foi um momento mágico, no sentido de importante e necessário. De entender, também, que os catadores são trabalhadores, uma categoria que presta um serviço imenso para a sociedade paulistana e para a sociedade brasileira”, salientou.