Catadores já passam fome antes de construção de incinerador

mncr
Publicado 26/11/2013 18:25 Última modificação 26/11/2013 19:23

O sentimento é de desolação na Associação de Catadores Refazendo, no município de São Bernardo do Campo, Estado de São Paulo, após anos sem infraestrutura, agora a poder público municipal quer transfere-los para outro local obrigando-os a se juntar a outra associação de catadores. Os catadores da Refazendo saíram do antigo lixão do Alvarenga fechado em 2001, período em que a administração municipal tinha maior sensibilidade para a inclusão social. Até 2011 a Refazendo dispunha de 7 caminhões para fazer a coleta seletiva solidária porta a porta em cerca de 40 bairros, com o material arrecadado os catadores conseguiam uma das melhores rendas entre as cooperativas de catadores da região.

Mas tudo mudou depois que o Prefeito Luiz Marinho, do PT, assumiu a administração do município  e os catadores da Refazendo se posicionaram publicamente contrários a iniciativa polêmica de construir um incinerador de lixo na cidade. Com isso sofreram pesada retaliação da Prefeitura que retirou todos os caminhões que dispunham para a coleta, inclusive um dele de propriedade da própria Associação,  deixando-os a beira da falência.

“A Prefeitura tirou todos os nossos caminhões de coleta, nós voltamos a puxar carroças. Estamos vivendo de doações das empresas que trazem o material até o galpão e algumas coletas em condomínio que ainda conseguimos fazer. O rejeito não é mais retirado pela prefeitura” denuncia Maria Francisca, presidente da Associação Refazendo e representante do MNCR no ABC. “As 32 famílias estão passando necessidades, a única fonte de sobrevivência que temos é a esse trabalho”, desabafa.

O Município assinou uma PPP (parceira público privada) com duração de 30 anos e custo de cerca de 4 bilhões de reais para a construção da usina e estruturação do serviços de limpeza pública da cidade. No contramão da Política Nacional de Resíduos Sólidos, o planejamento do município prevê a queima de 80% dos resíduos da cidade, recuperação de apenas 10% dos recicláveis gerados, assim como 10% dos resíduos orgânicos.

“Me chamou muito a atenção  o descaso do poder publico uma cooperativa de catadores histórica do município que saíram do lixão do Alvarenga e com sua própria garra e apoio da Prefeitura, na época,  formaram a associação. Hoje nos deparamos com uma administração querendo tira-los do espaço de trabalho” relata indignando Roberto Laureano da Rocha, representante do MNCR, que esteve recentemente em visita aos catadores. Roberto denuncia o autoritarismo e falta de sensibilidade da Prefeitura Municipal, que tem impedido que os recicláveis da coleta seletiva chegassem até a Refazendo.

“É uma perseguição e humilhação que faz os catadores da Refazendo passar fome, isso para forçar esses catadores aceitar a política de queima dos resíduos. A pressão psicológica chegou a tal ponto de ouvi catadores dizer preferir as condições sub-humanas de sobrevivência no lixão do Alvarenga do que a humilhação que estão sofrendo do governo petista de São Bernardo” declarou Virgílio de Farias, advogado voluntário que defende os catadores que destaca ainda que a região onde se pretende construir o incinerador é área de mananciais e por lei esse tipo de empreendimento é proibido.

 

ABCD em chamas

Com o incinerador de São Bernardo do Campo já contratado, só a espera de licença ambiental, os municípios da região iniciaram uma “corrida pela incineração”. O Prefeito Donisete Braga, PT, do município de Mauá, enviou à Câmara de Vereadores local um projeto de lei permitindo a construção  outro incinerador de lixo na cidade, uma tentativa de competir com o município vizinho que pretendia queimar também os resíduos de Mauá. A região do ABCD já é saturada de poluição de ar devido a quantidade de indústrias e do polo petroquímico, com os incineradores em funcionamento a população corre sério risco a saúde.