Nota de pesar por Regina Maria Manoel

Irmã regina foi uma das grandes articuladores da organização de catadores no Brasil

Com tristeza nos despedimos da companheira Regina Maria Manoel, conhecida entre nós como Irmã Regina, coordenadora da Organização de Auxilio Fraterno (OAF), ong parceira e fundamental para a realização do 1o Congresso de Catadores de Materiais Recicláveis em 2001 e com ele a fundação do MNCR – Movimento Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis. Regina lutava contra o câncer e deixará saudades a todos com quem conviveu. Os catadores e catadoras e a população em situação de rua são gratos por sua militância de mais de 50 anos como integrante da Fraternidade das Oblatas de São Bento que foi alicerce para organização e luta dos menos favorecidos.

Ela trabalhou ativamente para construção de políticas públicas em favor da população em situação de rua por meio do Fórum da Cidade de São Paulo em defesa da população em situação de rua, além do Fórum Nacional de Estudos da População de Rua do Vicariato Episcopal do Povo da Rua.

Foram os Oblatas que formaram a Comunidade dos Sofredores de Rua que dava assistência na década de 80 quando não havia nenhuma política pública voltada a essa população. Além da assistência e evangelização, a comunidade organizava reinserção social por meio de grupos produtivos.

Irmã Nenuca, economista uruguaia e integrante da OAF afirmou em seu livro que este deslocamento do trabalho para uma “linha mais comunitária”, “foi das coisas mais arriscadas que fizemos”. Atitude arriscada, pois a proposta então seria abandonar a perspectiva individual e tratar de formar grupos, trabalhar em grupos para a “conscientização de que a situação é social e não individual”. E esta passagem do indivíduo para o coletivo é vista com desconfiança por muitos, já que na época não se levava muito a sério a possibilidade da formação de grupos operativos com os então “mendigos”.

Nessa época, Dom Paulo Evaristo Arns, então Cardeal Arcebispo Metropolitano, pede à OAF que “tragam, quando puderem, o programa de Puebla para o centro de São Paulo”. E assim as Oblatas começam a articular e trazer para o centro da cidade todo um conjunto de referências ligadas à Conferência de Puebla, momento histórico em que a Igreja Católica da América Latina reformulou suas diretrizes de ação, lançando os elementos que iriam incitar ainda mais a proliferação das Comunidades Eclesiais de Base, que então se multiplicavam pela periferia de toda São Paulo. Só que diferente das CEBs, as Oblatas vão então fundar uma comunidade de base em outra periferia urbana: na periferia do centro.

Foi nessa época que surgiu a primeira associação de catadores no Glicério, centro de São Paulo, que depois de tornou a primeira Cooperativa de catadores do Brasil, a Coopamare.

Com informações de Daniel De Lucca Reis Costa (Tese de mestrado)