Por uma reciclagem de vidro com responsabilidade, justiça social e democracia

O Movimento Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (MNCR) vem a público manifestar sua indignação diante de recentes matérias publicadas na grande imprensa que, ao abordar a grave crise causada por bebidas adulteradas com metanol, tratam o tema da reciclagem do vidro de forma reducionista e distorcida, ignorando o papel estratégico dos catadores e catadoras na logística reversa e na economia circular brasileira.

Mais uma vez, assistimos à tentativa de transferir a responsabilidade do problema para os elos mais vulneráveis da cadeia, enquanto setores empresariais e industriais — que concentram recursos, poder e influência — buscam preservar sua imagem pública sem enfrentar as falhas estruturais do atual modelo de gestão do vidro no país.

O MNCR repudia veementemente qualquer narrativa que deslegitime o trabalho das associações ecooperativas ou que as trate como obstáculo à rastreabilidade e à segurança sanitária. Pelo contrário: são os catadores e catadoras que, há décadas, garantem que toneladas de vidro e outros materiais retornem ao ciclo produtivo, sem apoio logístico, sem reconhecimento adequado e frequentemente sem condições mínimas de segurança.

A omissão das responsabilidades dos grandes agentes econômicos — quem produz, envasilha, distribui e lucra com as embalagens de vidro — escancara a contradição de um sistema que cobra rastreabilidade dos catadores, mas tolera a ausência de controle efetivo nas etapas industriais e comerciais.

O Movimento Nacional dos Catadores reafirma que:

  • Os catadores e catadoras são atores centrais, e não coadjuvantes, na cadeia da reciclagem do vidro.
  • Não aceitaremos ser responsabilizados por falhas sistêmicas de rastreabilidade e fiscalização que pertencem às esferas produtiva, regulatória e comercial.
  • Defendemos que a responsabilidade deve ser compartilhada entre todos os elos da cadeia: fabricantes, envasadores, distribuidores e comerciantes, sob princípios de compliance, rastreabilidade e segurança sanitária.
  • Exigimos políticas públicas permanentes e estruturantes, com participação dos catadores na formulação e execução das soluções, incluindo centros de descaracterização e agregação de valor geridos por associações ecooperativas.
  • Rejeitamos abordagens tecnocráticas e discursos que invisibilizam o trabalho popular, solidário e ambientalmente essencial realizado pelos catadores e catadoras em todo o território nacional.
Não há economia circular sem justiça social.

A reciclagem do vidro, como de todos os materiais, só será efetiva quando a cadeia reconhecer o papel de quem, com as próprias mãos, garante que o resíduo volte a ser recurso.

O MNCR seguirá mobilizado para exigir que o debate sobre o vidro não seja capturado por interesses corporativos, mas guiado por transparência, inclusão social, segurança sanitária e soberania popular sobre os rumos da economia circular brasileira.

Brasília, 13 de outubro de 2025

Movimento Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (MNCR)