Seminário Nacional de Mulheres Catadoras debate precarização da profissão e cobra ações do poder público
Durante três dias, o Paraná sediou o Primeiro Seminário Nacional Catadoras na Resistência, organizado pelo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, pela União Nacional das Cooperativas de Catadores de Materiais Recicláveis, pelo Instituto Lixo e Cidadania, e pela Associação Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. A iniciativa marca a retomada dos planos de governo e das discussões a favor da classe, principalmente no que diz respeito às mulheres.
“É a volta de políticas públicas para as mulheres. Nós somos a maioria e uma maioria negra; grande parte mães solo. Então é muito importante pra gente discutir o avanço da nossa categoria enquanto mulheres catadoras”, explica Roselaine Ferreira, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis.
Cerca de 400 mulheres de todo o Brasil se encontraram para debater sobre a necessidade de reconhecimento, de inclusão de mulheres em situação de vulnerabilidade social e da criação de políticas públicas eficazes, sustentáveis e do fortalecimento de cooperativas – ponto que para Margaret Mattos, Procuradora Regional do trabalho, é fundamental.
“Sem essa organização fica muito difícil conseguir uma renda melhor, melhores condições de trabalho, lutar por políticas públicas. A organização em cooperativas também leva ao acesso a uma maior quantidade de materiais recicláveis que, sozinhas, elas não tinham condições de acessar”, analisa Margaret.
O seminário foi pensado como ferramenta para fortalecer o grupo na luta por melhores condições de trabalho, igualdade de gênero.
“Estudos apontam que as mulheres catadoras, frequentemente, são as principais ou únicas responsáveis pelo sustento de suas famílias, muitas vezes mães solo e fazem o sustento da família por meio da coleta de matéria reciclável”, explica Flávia Muniz, especialista em empoderamento econômico da ONU Mulheres.
Atualmente, mais de quinze milhões de pessoas no mundo desempenham a atividade de coleta, seleção e reciclagem de resíduos, o que representa cerca de 1% da população mundial.
A grande maioria vive em situação precária e, muitas vezes, sem o básico. É o caso da Flor de Liz que saiu de Cuiabá, no Mato Grosso, e aproveitou para a aprender mais e para realizar um sonho de infância: conhecer o mar.
“Eu tinha o sonho de conhecer o mar. E eu falava pra Deus que um dia eu ia conhecer o mar. Quando eu vi, senti vontade até de chorar”, conta emocionada.
HISTÓRIA – O Seminário Nacional “Catadoras a Resistência” é resultado do Encontro Nacional de Catadoras de Materiais Recicláveis, criado em 2008 a partir da necessidade de fortalecimento do gênero, que representa cerca de 70% na atividade.
Ao final do primeiro encontro, há quinze anos, concluiu-se que as catadoras que passam a viver da atividade para sustentar filhos são, quase sempre, chefes de família e não têm conhecimentos sobre os direitos mínimos.
Na época, estiveram presentes 269 catadoras e 69 crianças e adolescentes. A troca de experiência entre as trabalhadoras de diversos cantos do país foi fundamental para reconhecerem-se como peças-chave na atividade da catação e na luta para garantia de direitos.
“Elas saem daqui empoderadas. Elas voltam para os seus estados e vão levar para as suas companheiras tudo o que elas aprenderam. E vão passar a importância deste trabalho, até onde elas podem chegar, as políticas públicas que estão sendo desenvolvidas e as que já existem, que muitas trabalhadoras desconhecem”, avalia Rejane Paredes, do Movimento Nacional dos Catadores.