Aprovada a retirada em até 8 anos de catadores das ruas de POA (VIDEO)

 

Iniciou-se ontem, na cidade de Porto Alegre, o processo de higienização social da capital gaúcha com a aprovação do projeto lei que prevê retirada gradativa de carroças de tração animal em um prazo de 8 anos. Um golpe ainda maior da Máfia do lixo contra os catadores foi a aprovação de uma emenda ao projeto que incluí a retirada também de carroças de tração humana, deixando os catadores sem qualquer alternativa de trabalho.

O projeto lei foi apoiado amplamente pela classe média e a imprensa de Porto Alegre sob o argumento de defesa dos animais. Contudo, os catadores denunciam a política de revitalização dos centros urbanos e a interesses da Máfia do lixo na retirada dos catadores das ruas, abrindo espaço assim para empresas, fato que fica evidente em propostas como a suposta “inclusão social” com a transposição dos catadores para outros mercados de trabalho e a aprovação de emenda que retira catadores que não trabalham com cavalos, na qual os vereadores Beto Moesch (PP) e Haroldo de Souza (PMDB), incluíram, após a expressão Veículos de Tração Animal (VTA) a expressão Veículos de Tração Humana (VTHs), em todo o texto aprovado.

 

 

Relato dos catadores

A seção começou com atraso de 40 minutos, pois às 14 horas só tinha 11 vereadores do total de 36. Neste momento, nós do MNCR já havíamos lotado o plenário, com nossas representações e alguns companheiros apoios do MNCR, assim com o MTD, SIMPA, Resistência Popular, Levante Popular da Juventude, entre outros.

Do outro lado do plenário, que estava dividido em dois, ficaram as pessoas que se diziam "protetores dos animais", contava apenas com a metade de seu espaço completo.

A votação começou com um substitutivo de um vereador, o substitutivo proibia a circulação das carroças no centro e nas principais vias de Porto Alegre, o que para nós catadores não era bom. Este substitutivo foi derrotado pela maioria absoluta dos vereadores, o que para nós avaliamos como positivo. Logo então começou a votação do projeto do Vereador Sebastião Melo (PMDB) que em sua essência, extermina as carroças num prazo de 8 anos. O projeto foi votado pelos vereadores e aprovado por 22 votos favoráveis e 12 contra. Nós não paramos nenhum momento de gritar nossas insatisfações quanto a votação do projeto, pois já temos longos anos de discussão, inclusive um seminário realizamos, apresentamos nossas propostas e nenhuma delas foi viabilizada. O projeto começou de um jeito e acabou do mesmo, sem acrescentar nem tirar nada. Pensávamos que já tinha acabado, mas, para nosso espanto, o Vereador Beto Moech (PP), apresentou uma emenda ao projeto que também proíbe a circulação dos carrinhos de catador, esta emenda até então nunca foi apresentada e sequer discutida com nós, catadores de materiais recicláveis. Esta emenda também foi aprovada pelos vereadores. Os defensores dos animais, que até então já tinham alcançado seus objetivos, festejaram muito esta decisão. Ficamos muito preocupados, pois pensávamos que os "protetores dos animais" fossem favoráveis somente a proibição das carroças e concluímos: Estes burgueses da classe média, são contra os catadores em geral!

A parte que ficou ainda mais forte e deixou "cair a mascara", como disse um dos vereadores que estava a favor da lei de proibição em 8 anos, foi quando se apresentou outra emenda, ela iria fazer com que só fosse tirado o nosso instrumento de trabalho (carroça ou carrinho) somente quando já estivéssemos com outra renda ou com outro trabalho, mas os vereadores também rejeitaram. Para a alegria da burguesia classe média travestida de protetores dos animais e gritos de fascistas e de "máfia do Lixo" por nós, catadores de materiais recicláveis.

Este vereador se sentiu "traído", pois pensava que se aprovada sua emenda, garantiria nosso trabalho. Em desabafo ele gritou: -"agora sim, caiu a mascara"!

 

Tristeza e injustiça

Este foi o dia mais triste de nossas vidas, foi o dia em que os vereadores fascistas nos largaram na marginalidade plena e na exclusão total, sem sequer ouvir nossos gritos de justiça.

As leis aprovadas pela Câmara, deverão ser sancionadas pelo prefeito, mas já sabemos de antemão que este também é contrario aos catadores e também todos os pobres e excluídos, pois viemos de discussões desde sua entrada no paço municipal e nenhum de nossos projetos foi levado a fim, nenhuma de nossas propostas foi aceita. Para entender melhor, este prefeito foi o mesmo que botou a guarda municipal para prender e espancar os camelôs, assim como surrupiar seus pertences, trancar os viadutos para que os moradores em situação de rua morram de frio como na noite passada, em que mais um deles deixou de sofrer e acabou falecendo, conforme estampava uma matéria do jornal Diário Gaúcho hoje pela manhã(17/06).

Onde esta a Justiça!!

O que esta acontecendo, porque tudo isso!!

 

Máfia do lixo

É a articulação feita por candidatos políticos e políticos já eleito em privatizar e entregar os serviços de coleta, limpeza e destinação final do Lixo. Por um lado os políticos entregam a concessão de uso de equipamentos públicos e os serviços e pelo outro os políticos são financiados para suas campanha e para seus "pares".

Com isso tudo se eleva os preços destes serviços e quem paga é o trabalhador explorado, que não tem escolha, pois os valores são descontados em "impostos infiltrados" em todas as movimentações financeiras.

Nós catadores, saindo das ruas, o povo trabalhador fica refém das empreiteiras e dos políticos fascistas, pois nós coletamos mais de 500 toneladas de materiais recicláveis por dia (carroceiros e carrinheiros), sem nossa coleta a empreiteira da "máfia do Lixo" que fará, e para isso ela cobrará mais de R$ 250 por tonelada. Até então os trabalhadores não pagavam por isso, pois nós coletávamos totalmente de graça. Agora os investimentos que antes iam para a saúde, educação, lazer, geração de renda e trabalho se concentrarão nas mãos dos ricos, o que aumenta mais a exclusão e a marginalidade por um lado ( o nosso) e do outro a concentração de riqueza.

Para finalizar afirmamos: Vamos seguir lutando e trabalhando. Pois somos dignos de nosso trabalho

 

 

 

MNCR adia a votação do projeto de retirada das carroças de Porto Alegre

 

Nós do MNCR, fomos até a Câmara dos Vereadores de Porto Alegre nesta última quinta-feira, dia 12/06/08 para pressionar os vereadores a não votarem o projeto que institui a retirada gradativa das carroças em até 8 anos na cidade de Porto Alegre.

Na chegada o chefe da segurança da Câmara informou a um de nossos companheiros que a Câmara estava com tanta segurança, a porta estava com detector de metal, todos os populares que viessem a Câmara naquela tarde seriam revistados exceto os trabalhadores, funcionários e vereadores; e o Plenário da Camara seria dividido: de um lado quem era a favor do projeto (a burguesia) e de outro, os catadores e catadoras. No plenário cabem 100 pessoas no máximo (50 catadores e catadoras e 50 burgueses), no momento que desse sua lotação, o mesmo seria fechado, e  ninguém mais poderia entrar. Nosso companheiro respondeu que se fosse igual para todos, isso poderia ser um acordo. O segurança respondeu: “então esse é nosso acordo!”

A plenária foi bem agitada, nós não paramos um minuto sequer, com palavras de ordem como essas: “máfia do lixo... máfia do lixo”, “burguesa, burguês, chegou a nossa vez!”, “chega, acabou a regalia, é o poder da periferia” entre outras tantas. A seção teve que ser suspensa por várias vezes, mas nós não nos entregamos.

Em cada fala dos vereadores, ficávamos cada vez mais apreensivos. A imprensa deu ampla cobertura, inclusive a nível nacional em algumas emissoras, e até eles, viram que este projeto é “máfia do lixo”.

No final da plenária conseguimos uma vitória parcial: o adiamento da votação para segunda feira, dia 16/06, as 14 hs.

Um companheiro avalia: “Vimos mais uma vez, que organizados e bem articulados, conseguimos ter uma vitória parcial e só a luta do povo propicia isso. Mas queremos mais, queremos que este projeto burguês e da máfia do lixo não seja aprovado, pois não seremos os únicos a serem afetados”, e continua, “em nossas vilas, a economia é baseada na reciclagem! Na carroça! De nós dependem outros trabalhadore, capinseiro, o ferreiro, o carpinteiro, as agropecuárias, os nossos armazéns, além de todos os setores de reciclagem, aparistas e indústrias de reciclagem, que só em Porto Alegre, geram mais de 600 postos de trabalhos diretos”

No final, uma vereadora nos falou: “Nunca vi tanta segurança na casa como hoje, principalmente armados e detector de metal, nunca vi a guarda municipal aqui, e muito menos a BOE (Batalhão de Operações Especiais). Isso é discriminação! Por que este tratamento a estes trabalhadores, se já votamos outros projetos conturbantes? Será que estamos voltando a era de cidade de sítio”.

No final, em nossa saída, avaliamos o dia de luta como positivo, mas que vencemos apenas mais uma batalha e que a luta continua.