Catadores discursam na Organização Internacional do Trabalho (OIT)
Catadores do Brasil, Colômbia e Índia participaram da 102ª Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, promovida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para chamar a atenção para a coleta de resíduos e reciclagem como um setor chave para empregos verdes e desenvolvimento sustentável. Veja o discurso de Nohra Padilla, da Colômbia, e Alex Cardoso, do Brasil, apresentado na sessão plenária.
Companheiros e companheiras:
Meu nome é Nohra Padilla, sou catadora de materiais recicláveis, desde os oito anos de idade e a terceira geração dos que sobrevivem da recuperação dos materiais encontrados no lixo.
Somos mais de 24 milhões de trabalhadores no mundo – jovens, mulheres, velhos, imigrantes, somos fruto das crises econômicas, falsos desenvolvimentos tecnológicos e industriais. Trabalhamos com a reciclagem e manejo de resíduos, recuperação, coleta, transporte e limpeza, que se convertem cada dia em milhões de matérias primas recuperadas para a produções de consumo massivo. Somos assim, a base do ciclo produtivo de matérias primas recicladas, realizando 90% do trabalho sem nenhum reconhecimento na maioria dos casos, o que nos deixa em situação de extrema miséria. Sem o aporte da nossa força laboral todos estes materiais estariam destinados a serem enterrados, incinerados, ou postos em lixões a céu aberto e em corpos de agua, que a humanidade precisa para viver.
Somos mais de meio milhão de catadores de materiais recicláveis nos 5 continentes, agrupados em organizações de base e outras formas de associações onde não há patrão nem empregado porem sim companheiros de trabalho. A mais de 30 anos temos formado organizações nacionais, contineitais e recentemente caminhamos firmemente para a consolidação de uma força global. Buscamos também a integração com outros trabalhadores desta cadeia de valor que possibilita milhares de postos de trabalho em todo o mundo e unir forças em defesa dos nossos legítimos direitos.
Os catadores sem acesso aos materiais recicláveis, são como os pescadores sem peixes ou campesinos sem terra — não podemos sobreviver se não garantir que os materiais recicláveis fiquem em nossas mão e não em negócio capitalista de manejo de lixo que por exemplo incinera nossa fonte de sustento. A luta se mantém, pois as forças interessadas no despejo de nossa atividade como muito bem anota a nossa companheira Sharan Burrow (CSI), “são as corporações que situam nos negócios por cima das pessoas”.
Sem recicladores, a humanidade não pode assegurar economia de energia, agua, arvores, minerais e locais de disposição final de resíduos. Sendo este um dos setores que pela natureza do trabalho, é responsável pelos mais importantes impactos positivos sociais, econômicos e ambientais que demanda o desenvolvimento sustentável, seus trabalhadores se debatem nas mais vergonhosamente pobreza e condições de trabalho.
Como disse o Diretor Geral (OIT) em sua pronúncia, a comunidade internacional tem deixado atrás a falsa alternativa entre empregos e proteção do planeta: neste sentido, os catadores são um fiel exemplo da criação de “auto-emprego”, onde somente com a recuperação de papel e papelão realizada, cada dia de um catador de materiais recicláveis se salva uma arvore e milhões de litros de água.
As condições por parte do Comitê de Desenvolvimento Sustentável sem duvida são um passo concreto para um ganho de compromisso pela OIT. Com as demandas do setor com desenvolvimento social, o reconhecimento do trabalho verde existente, a criação de novos empregos verdes e garantir o trabalho descente para todos.
Por estas razões como voz da nossa força global, no comitê de desenvolvimento social sustentável da OIT estamos para reivindicar nossa condição de companheiros trabalhadores e não de empregados, para buscar o reconhecimento e a concretização de:
1. Reconhecer que os catadores de materiais recicláveis tem contribuído substancialmente por 8 décadas para o desenvolvimento sustentável.
2. Trocar as condições atuais de trabalhadores miseráveis a trabalhadores descentes cooperativados e auto-organizados.
3. Fortalecer a tecnologia social, que efetivamente combatem as emissões de gazes de efeito estufa, conservam recursos naturais, energia e principalmente o cambio climático.
4. Financiar a infraestrutura necessária por parte dos gvernos no setor verde para melhorar e potencializar o trabalho no setor.
5. Promover e garantir a justiça no setor para obter tanto a remuneração pelo exercício do trabalho como marco dos sistemas de tarefas publicas, as compensações ambientais e a renda pela venda de matérias primas recuperadas a preços justos.
6. Assegurar a transição justa em cada país para os catadores de materiais recicláveis que contenham proteção Social, Seguridade e Saúde do Trabalho e sua Participação Ativa nas tomadas de decisões.
Finalmente, agradecemos a todos os companheiros e companheiras que firmemente vem lutando nesta casa, para garantir justiça social e economida. Combatendo a exploração dos trabalhadores.
Muito Obrigado.
Alexandro Cardoso
Nohra Padilla