8 de março: Mulheres em LUTA pela Reciclagem Popular
Luta pela reciclagem popular e pelo fim da desigualdade na cadeia produtiva da reciclagem.
A Reciclagem popular é a uma forma de trabalho inventada e aprimorada pelo nosso povo. É a reciclagem feita pelas catadoras e catadores, em associações e cooperativas autogestionárias. Ela compreende todas as etapas do processo produtivo: prestação do serviço público de serviço de coleta, triagem, enfardamento, beneficiamento e industrialização dos materiais recicláveis. Todas essas atividades são realizadas pelas próprias catadoras e catadores, sem patrões, distribuindo a riqueza, o poder e o conhecimento gerado a partir do resíduo.
A Reciclagem Popular já é uma prática em vários cantos desse país, mas muitas companheiras e companheiros continuam sofrendo as duras condições de exploração e falta de pagamento do poder público pelo serviço prestado. Ainda há trabalho escravo na reciclagem, ainda há trabalho infantil na reciclagem, a maioria dos municípios não realiza coleta seletiva e as crises econômicas continuam afetando o preço dos materiais recicláveis. Sendo que quando as coisas apertam nós mulheres nos desdobramos para não deixar faltar nada em casa. Por isso lutamos por 100% de reciclagem com 100% de inclusão das catadoras e catadores.
Lutamos pela Coleta Seletiva Solidária executada por cooperativas autogestionárias de catadoras e catadores. Trata-se da contratação através do novo modelo de gestão integrada de resíduos sólidos. Essa forma de gestão compreende sistemas públicos de limpeza urbana com participação e controle social. Lutamos por uma política pública estruturante capaz de apoiar todas as catadoras(es), desde aqueles que realizam um trabalho autônomo, ou estão em situação de lixão, até aqueles em processo avançado de organização.
Dizemos não à incineração, pois não aceitaremos a queima dos resíduos, que são uma riqueza, nem a poluição da natureza. Defendemos o nosso sustento e a vida do nosso planeta. Dizemos não à privatização da coleta de lixo, pois acreditamos que a gestão dos resíduos deve ser feita com a participação da sociedade. Chega de encher o bolso de empresários, alienando a sociedade de sua responsabilidade com seus resíduos. Dizemos não à conteinerização, pois não acreditamos que “maquiando” nossas ruas resolverá a situação. Somos contra tecnologias caras, ineficientes e que excluem as(os) trabalhadoras(es).
Para a consecução do nosso objetivo, a Reciclagem Popular, que atende os princípios da justiça social, preservação ambiental e é condizente com a PNRS/Política Nacional de Resíduos Sólidos, reivindicamos a elaboração de um Programa Nacional de Investimento na Reciclage
Popular (PRONAREP). Esse programa deverá introduzir uma politica de financiamento estruturante as organizações de catadoras(es), organizados em todos os níveis, superando a lógica de concorrência feita por editais. Este financiamento deve apoiar desde as pequenas associações de catadores que ainda estão em cima dos lixões, assim como aquelas que estão em processo de comercialização coletiva, através de suas redes. Este apoio deve ter o objetivo de fortalecer o crescimento das(os) catadoras(os) para o desenvolvimento da cadeia produtiva, tornando-a popular e solidária.
O PRONAREP deverá considerar as especificidades regionais para a instalação dos pólos industriais; prever o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento para soluções adequadas à Rota Tecnológica da Reciclagem Popular; e articular as diferentes políticas de educação, saúde, habitação, erradicação do trabalho infantil, assistência social para a população catadora.
Nós catadoras do Rio Grande do Sul lutamos diariamente contra a opressão. Em Uruguaiana combatemos juntas(os) a incineração, na região metropolitana resistimos diariamente a um modelo privatista de gestão de resíduos sólidos e seus pacotes tecnológicos, e no Vale do Rio Pardo avançamos na implementação da Coleta Seletiva Solidária em contraposição ao modelo privatista.
Nesse 8 de março nos somamos a todas as Mulheres em LUTA. Assim como todas as mulheres trabalhadoras, exigimos o direito a creche, moradia e melhoria da saúde pública. Por soberania alimentar, por reciclagem popular, pela vida das mulheres e de nossa terra!