Evento defende participação mais justa dos catadores
Durante participação em ações da Semana Lixo Zero, realizada na Vila Madalena, em São Paulo, a Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT) apresentou resultados positivos da plataforma de logística reversa Reciclar pelo Brasil e defendeu uma participação mais justa da categoria nas oportunidades de negócios, além de lançar um manifesto contra a incineração de resíduos, assinados por diversos atores sociais.
No painel intitulado ‘Plataforma Reciclar pelo Brasil: uma Estratégia de Logística Reversa com o Protagonismo dos Catadores’, exposto no último dia 23, o secretário executivo da plataforma, Edy Merendino, traçou um panorama das ações do programa junto às cooperativas e sua evolução, dentro de suas premissas sociais, ambientais e econômicas. Segundo ele, todas as 14 empresas envolvidas atualmente na plataforma são signatárias do acordo setorial de embalagens.
“Dentro dessa coalizão, foram estabelecidas as regras de como trabalhar, que tipo de apoio e o nível de investimento que cada empresa tem que fazer. A plataforma é aberta a esse ponto e a responsabilidade da definição de investimento é da própria empresa, de acordo com a responsabilidade. Normalmente, isso é baseado em quantidade de embalagens. Se a empresa coloca mais embalagens, ela tem que comprovar a recuperação de um volume maior de embalagens”, disse.
Ainda de acordo com Merendino, além de investimentos, essas empresas participam com inteligência, desenhando projetos junto aos catadores, através da ANCAT. Para ele, o fato de a plataforma ser montada em parceria entre empresas e catadores faz todo sentido.
“Os catadores sabem que precisam e conseguem conversar com o público de uma maneira melhor. Do outro lado, as empresas têm todo o conhecimento, as ferramentas de gestão e o foco em resultados para orientar esse trabalho. Então, a união desses dois é o que faz a plataforma realmente ser um sucesso e fazer os resultados chegarem aonde mais precisa, que é na cooperativa, na coleta e no rendimento dos cooperados que estão trabalhando”, disse.
Resultados positivos
Prova desse sucesso é Anderson Nassif, catador de materiais recicláveis e um dos técnicos do Programa Reciclar pelo Brasil.
“Eu me sinto muito à vontade em dizer da importância e do impacto que a plataforma Reciclar pelo Brasil tem diante desses empreendimentos, até porque eu vivencio isso enquanto um catador de materiais recicláveis e faço parte também de uma cooperativa”, ressaltou.
Ele citou o exemplo de uma associação de catadores no município de São Joaquim da Barra, no interior de São Paulo que, graças às ações do programa, evitou o fechamento das portas.
“Num determinado momento, talvez num momento mais crítico e decisivo para essa associação, a gente conseguiu inseri-los nessa plataforma. Ela conseguiu estabilizar a renda dos catadores, já faz aproximadamente seis meses, em mil e cem Reais. Obviamente que não precisa nem dizer do impacto que a plataforma teve nesse empreendimento”, concluiu.
Mobilização junto às bases
Por sua vez, o catador Eduardo Ferreira de Paula, um dos mobilizadores do Reciclar pelo Brasil, falou das ações do programa dentro das cooperativas.
“O técnico conversa com a diretoria da associação, e às vezes, quando tem alguma dificuldade, entra nós, enquanto catadores, para estar dialogando com a diretoria, para que o processo dentro da cooperativa eles passem a entender e a gente comece a tocar os projetos”, disse.
Para ele, esse diálogo de mobilização é muito importante, porque produz um entendimento entre os catadores e o técnico.
“Enquanto catador mobilizador, a gente transmite uma garantia para a base. A base vê que o projeto é real e começa a acontecer. É muito legal, é bacana, esse é um processo que está dando certo”, finalizou.
De acordo com o presidente da ANCAT, Roberto Rocha, o programa Reciclar pelo Brasil é fundamental para que os catadores e as equipes técnicas possam adquirir melhores informações para o trabalho do dia a dia, além da constante busca por processos de profissionalização, frente ao novo mercado da economia circular.
“Esse mercado de recicláveis no Brasil até então era um mercado meio solto, ninguém tinha responsabilidades. Na verdade, poucas empresas tinham essa responsabilidade, mas, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a assinatura do Acordo Setorial, essas coisas começaram a mudar o panorama no Brasil, nessa questão da recolha das embalagens pós-consumo”, ressaltou.
Ele lembrou que antes os catadores coletavam materiais apenas pelo sustento diário, mas quando isso virou uma oportunidade de mercado, pessoas que não são catadores começaram a montar negócios, tomar a frente e torna-los simplesmente empregados desses negócios.
“Esses programas que querem levar materiais recicláveis para dentro das cooperativas, nós não aceitamos. A gente quer ir lá buscar o material, coletar o material e fazer a logística. Com as nossas carrocinhas nós já fizemos a nossa logística, por que agora com nossos caminhões, nossos equipamentos, nós não podemos fazer isso? Nós, catadores de materiais recicláveis, queremos participar de todo o processo”, afirmou. A liderança
ainda alertou para a necessidade de a categoria investir em treinamento profissional, além do processo de formação pelo qual já passaram. “É isso que nós precisamos fazer hoje, enquanto catadores e catadoras”, disse ainda.