Cooperativa de catadores luta pela sobrevivência com a solidariedade de movimentos sociais
A Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis, Coopere-Centro, localizada na Ponte Pequena, região central de São Paulo, passa por um período de transição e de dificuldades. Após decidirem sair da Central de Triagem Mecanizada, que funciona ao lado da cooperativa, os catadores começaram a enfrentar um processo de sufocamento de sua atividade.
Dos oito caminhões de coleta que dispunham para realizar a coleta de materiais recicláveis, no Centro, hoje só há dois caminhões; um deles também tem risco de ser retirado, caso a cooperativa continue a coletar materiais na região, local rico em materiais de bom valor, e passe a coletar apenas, no bairro do Limão, onde não existe ainda coleta seletiva, porque a população não foi educada a separar o material reciclável.
A cooperativa terá de fazer gratuitamente a educação ambiental porta a porta, a partir do zero e entregar seus pontos de coleta do Centro, já com o trabalho de educação ambiental, para a empresa de coleta que levará todo o material para a Central Mecanizada. Além dos pontos de coleta, a cooperativa sofreu a ameaça de perder metade da estrutura de galpão que seria cedida para as empresas Loga e Central Mecanizada. Com apoio do Centro Gaspar Garcia de Diretos Humanos, que dá suporte técnico e social, desde sua fundação, a cooperativa em parceria com o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), os movimentos de moradia e a Ouvidoria da Defensoria Pública, a Coopere-Centro conseguiu reverter a decisão da Prefeitura de retirar parte da área da cooperativa, além de abrir um processo de diálogo sobre a necessidade de investimentos no galpão da cooperativa.
No entanto, o clima na cooperativa é de apreensão, já que não se tem garantia de nada ainda. Com o desafio de garantir renda para cerca de 100 cooperados com apenas dois caminhões, o grupo planeja reestruturar novamente a produção da cooperativa, fortalecer seus laços com os parceiros e reestruturar seu trabalho após essa transição. Antes a cooperativa prestava o serviço de triagem na Central Mecanizada, que garantia renda de cerca de R$ 1.500, para os 54 catadores que trabalhavam na instalação administrada pela empresa Loga.
Em razão dos constantes problemas de assédio moral aos catadores, de exigência de porte físico para aguentar o trabalho exaustivo das esteiras e equipamentos mecanizados e de perda da autonomia da Coopere-Centro, os cooperados decidiram em assembleia se retirar da instalação e romper com o contrato de prestação de serviço. Na avaliação dos catadores a cooperativa precisou se adaptar como empresa para cumprir as exigências da Prefeitura e estava perdendo sua missão de desenvolver um trabalho solidário voltado à inclusão social de pessoas em situação de rua.