Coopamare completa 30 anos de fundação

Em 31 de maio, a Cooperativa de Catadores de Papel e Papelão e Materiais Reutilizáveis, Coopamare, completou 30 anos de existência. O grupo formado por Catadores de Materiais Recicláveis, muitos dos quais, estiveram em situação de rua, foi a primeira cooperativa de Catadores do Brasil e serviu de inspiração de milhares de outros grupos que começaram a se formar a partir de então. Hoje são cerca de 2 mil organizações de catadores espelhadas por todas as regiões do Brasil, além de intercâmbios internacionais em vários continentes.

A organização é resultado de ações sociais da Ordem dos Católicos Oblatas que trabalhavam principalmente com pessoas em situação de rua e na região central da cidade de São Paulo desenvolviam ações de assistência e organização dos trabalhadores pobres da região.

“Nossa história se assemelha muito com a da Coopamare. Nos temos muito o que agradecer. Em 1986, começou um processo muito forte de repressão aos moradores de rua, como se chamava naquela época, pela Prefeitura de Belo Horizonte. Eu nessa época vivia no lixo, morava no lixo e era tratado como lixo. Ai surgiu a Coopamare e trouxe uma esperança para nós”, relatou Luiz Henrique da Silva, da coordenação nacional do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis e membro da Asmare, Associação de Catadores de Belo Horizonte que foi fundada logo após o surgimento da Coopamare.

“Foi a partir do sopão do Glicério que surgiu a Coopamare, assim como o grupo da moradia, grupo de canto e dança, surgiu grupos enormes. Quero desejar a vocês primeiro sucesso. Porque o sucesso nem sempre enlouquece a cabeça não, o sucesso nos fortalece. O compromisso nos fortalece e dá exemplo para a sociedade”, declarou a Irmã Ivete, que junto com a irmã Regina, ajudaram a organizar os Catadores do Glicério e fundar a cooperativa.

A Irmã Regina Manuel relatou que na época não se sabia qual nome chamar a cooperativa, já que na época não existia a profissão de Catador. Foi feita uma lista com vários nomes, mas o grupo decidiu que queria ser chamado de Catadores de Materiais Reutilizáveis, pois o termo recicláveis ainda não era usado ainda. “Quantas vezes se correu o risco de perder o trabalho, de perder esse espaço? Mas a Coopamare nunca se dobrou a vontade da prefeitura, ela foi resistente”, declarou.

Hoje a cooperativa permanece no bairro nobre de Pinheiros, mesmo após várias gestões municipais tentarem retirá-los do local, que fica embaixo do viaduto Paulo IV. Eduardo Ferreira de Paulo, membro fundador e representante nacional do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, lembra dos episódios de conflito com a comunidade elitista. “Um morador da frente nos disse que ia plantas uma arvores em frente a cooperativa para tampar a visão e não precisar ficar olhando a gente da janela dele. Os cooperados peguntaram pra mim: ‘Vamos deixar?’. Eu falei deixa ele plantar. E nós cuidamos, a arvores cresceu e hoje dá sombra para a gente descansar. Nós ficamos e o morador já se foi”, declarou emocionado.

A Coopamare é uma das poucas cooperativas da cidade que sobrevive completamente independente da Prefeitura. Todos os custos da organização, como água, luz, telefone e combustível e pago pelos próprios cooperados. Isso graças ao trabalho de educação ambiental desenvolvido ao longo de anos. Os moradores da região levam os materiais recicláveis até a porta da cooperativa. Os catadores também realizam coleta com veículos próprios nos grandes geradores de materiais da região, além de condomínios. Outra atividade importante é receber visitas nas quarta-feiras de escolas, universidade, reportagens, artistas e até caravanas internacionais. A organização é parte da história de São Paulo e sempre esta presente nos eventos de carnaval e show do bairro boêmio.

Recentemente a cooperativa desenvolveu um curso oferecido pela Prefeitura em seu espaço para novos Catadores e abriu as portas para que imigrantes haitianos pudessem estudar. Hoje eles compõem o corpo de associados da Coopamare reforçando sua missão de inclusão social.