Catadores do lixão de Cotia lutam pelo trabalho mesmo com perseguição

Sessenta famílias que saíram do lixão de Caputera em Cotia, na Grande São Paulo, lutam para manter as atividades e sobrevivência por meio da catação. A Cooperativa Luxo do Lixo formada por catadores do lixão preserva a memória de anos de exploração e sofrimento. “Meu pai foi um dos primeiros a chegar lá. Logo se formou um bairro no entorno do lixão, nos morávamos lá também. Chegou a ter 500 famílias lá dentro”, conta Solange Fernandes Rezende Cabral, 45 anos, presidente da Cooperativa, ao apontar as fotos e documentos que comprovam o tempo que viveu dentro da área que serviu por muitos anos como destino dos resíduos da cidade.

“Havia muito sexo, muita droga lá … e tinha uma caderneta e nós nunca conseguiamos sair de lá. Era uma caderneta de dívida muito alta. A gente vivia nessa escravidão, só conseguimos no libertar quando o lixão fechou, quando a Justiça fez um movimento contra menores no lixão”, lembra Solange.

Ela mostra fotos da família que cresceu toda no local. Seus seis filhos são frutos de seis país diferentes, todos falecidos. No ano 2000, após o fechamento, a família continuou fazendo a catação com a coleta porta a porta na cidade com uma estrutura de galpão. Até a Prefeitura da cidade expropriar o galpão em 2013.

“A gente quer nosso galpão. Nós tínhamos um mega galpão com instalação trifásica e tudo. Até prenderem a gente lá por mais de 4 horas. Vieram com guincho e levaram todos os equipamentos. Colocaram fogo em duas peruas que nos tínhamos. Nos não sabemos direito quem eram eles, passamos por momentos de horror lá dentro”, disse Solange se referindo ao “assalto” inusitado, no qual os criminosos foram com guincho e grande aparato para levar os bens da cooperativa. Pouco tempo depois uma empreiteira assumiu a operação do antigo lixão e soterrou o galpão do local. “Fizeram isso pra ver se agente se desestruturava e ia embora, né”, completa.

A Cooperativa tenta há muito tempo conseguir uma nova sede para o trabalho, mas não conseguiram acordo com a Prefeitura até o momento. O grupo levou a questão para o Ministério Público na busca por justiça para as famílias que têm passado muita dificuldade desde então.

A pesar da perseguição que sofrem, a cooperativa não desanimou e mantém o habito de formação constante do grupo, assim como os projetos sociais e a coleta seletiva feita a duras penas.

“Nós lutamos hoje por uma indenização pelo que aconteceu, porque a Prefeitura fez a expropriação da área de 38 mil metros quadrados onde nós trabalhávamos a muito tempo. Temos o direito de usufruto capião. Então nós queremos um outra área para trabalhar”, esclarece Solange.

A Cooperativa faz hoje a prensagem do material que coleta com um equipamento improvisado que eles mesmos inventaram. Seu trabalho é todo na rua e sem apoio de nenhuma entidade ou órgão público. Mesmo assim o trabalho não para e o grupo promove a recuperação de objetos achados na coleta e os devolvem para a comunidade por meio de bazares ou eventos beneficentes. “Nós recuperamos brinquedos para as crianças da comunidade. É um bairro muito pobre da cidade.” relata Solange.

No último dia 01 de setembro, Solange e outros membros da Cooperativa com apoio do MNCR estiveram reunidos no Ministério Público. O mesmo grupo agora se reunirá com a autoridades da Prefeitura.