Carta do I Encontro de Catadores(as) da Amazonia Legal (ECAL)
Aconteceu nos dias 11 e 12 de junho de 2013, nas dependências do Auditório Berlarmino Lins, localizado na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, o 1º Encontro dos Catadores/as da Amazônia Legal (I ECAL). O evento reuniu representantes dos catadores/as dos nove estados que compõe a Amazônia Legal brasileira.
CARTA DE MANAUS
I ENCONTRO DE CATADORES DA AMAZÔNIA LEGAL (I ECAL)
Manaus-AM, 11 e 12 de junho de 2013
Preâmbulo
As catadoras e os catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso que constituem a Amazônia Legal em nosso território pátrio, participantes do I Encontro de Catadores da Amazônia Legal (I ECAL), reunidos em Manaus (AM), nos dias 11 e 12 de junho de 2013, irmanados em um só sentimento, o da
amazonidade
, presente na região desde os tempos imemoriais do guerreiro Ajuricaba, em uma só voz, assim proclamam:Em face da existência da Lei N.º 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), e do Programa Pró-Catador Decreto n.º 7.405/2010, profundamente preocupados com as dificuldades encontradas para realizar seus trabalhos com resíduos sólidos recicláveis, bem como mediante o reconhecimento da necessidade de consolidar conquistas resultantes do histórico e importante trabalho ambiental que realizam com tais resíduos e, também, visando identificar alternativas para o desenvolvimento de tal trabalho ou melhoria do intercâmbio entre as associações e cooperativas que atuam com os materiais reutilizáveis e recicláveis;
Convencidos de que as conquistas das boas condições de trabalho - motor indispensável para a inclusão, a emancipação e a igualdade - só serão possíveis mediante o trabalho conjunto da sociedade civil, do setor privado e dos diferentes níveis de governo na elaboração de estratégias e ações que contribuam para a busca de soluções ao que realizam as catadoras e os catadores;
Fazendo suas as conclusões dos grupos de trabalho e considerando-as a expressão de suas vontades; proclamam a presente carta e apelam para que suas considerações, recomendações e reivindicações sejam assumidas como bases indispensáveis para o fortalecimento da categoria das catadoras e catadores na Amazônia Legal.
Como resultado dos trabalhos desenvolvidos por diferentes grupos formados pelas catadoras e catadores e, também, pelos gestores, os quais atuaram sobre questões relacionadas à problemática vivenciada pela categoria, são elencadas as seguintes propostas:
I - Demanda das catadoras e catadores
- Infraestrutura: terrenos legalizados, galpões de triagem, equipamentos e máquinas (balanças, prensa, matrin, empilhadeira, carrinhos para coleta e equipamentos de proteção individual e coletivo);
- Assessoria técnica: para orientação, elaboração, implantação, implementação e avaliação de projetos específicos de coleta seletiva solidária;
- Formação e constituição de redes solidárias nos Estados que não as possuem e fortalecimento dessas redes onde já existentes;
- Formação e organização política das catadoras e catadores;
- Legalização jurídica dos grupos de catadoras e catadores em associações e/ou cooperativas;
- Contratação, pelos serviços prestados das associações e cooperativas, pelo município com a remuneração das catadoras e catadores na coleta seletiva solidária;
- Apoio financeiro e tecnológico (caminhão, balsa, balança rodoviária, empilhadeira etc.) na logística terrestre e fluvial para o deslocamento dos matérias recicláveis até o polo de comercialização;
- Criação de um fórum regional de catadores de material reciclável da Amazônia Legal;
- Isenção dos impostos sobre os materiais recicláveis coletados e ou beneficiados pelas associações e cooperativas constituídas exclusivamente por catadoras e catadores;
- Garantir acesso dos catadores/catadoras no Programa Minha Casa Minha Vida, desde que organizados em cooperativas/associações;
- Disponibilizar recursos através de editais do Governo Federal para o fortalecimento dos empreendimentos direcionado aos catadores/as da Amazônia Legal;
- Elevação da escolaridade dos catadores/catadoras através de um programa específico que atenda a este segmento.
II - Demanda dos gestores
- Fortalecimento e/ou criação dos Fóruns Lixos e Cidadania por estado/município;
- Constituição de uma instância de discussão para Gestores, através da realização mensal de videoconferências e a realização de encontros presenciais a cada três meses;
- Institucionalização de um grupo de gestores em cada Estado e que se faça presente de forma efetiva nos Fóruns;
- Elaboração de uma agenda para que essas questões sejam discutidas nos Grupos de Gestores Estaduais e nos Fórum Lixo e Cidadania;
- Os gestores deverão empreender o esforço em implantar o Pró-Catador;
- Elaborar e implementar ações integradas de resíduos sólidos nas políticas públicas na Amazônia;
- Realização de diagnóstico socioambiental, econômico e de logística para implementação da Política de Resíduos Sólidos, desativação dos lixões e inclusão social do catador;
- Capacitação dos gestores e técnicos que estão inseridos no processo para que se possa entender toda a cadeia produtiva dos resíduos e a própria Política de Resíduos Sólidos e de inclusão;
- Desenvolvimento da Política de Resíduos de forma a integrar as várias esferas da previdência e da assistência social, educação, saúde, cultura, habitação, dentre outras que contribuam para a inclusão efetiva dos catadores;
- Realizar esforços para a implementação da Política de Resíduos Sólidos e a inclusão dos catadores (infraestrutura, logística e recursos humanos);
Em uma nova rodada de trabalhos em grupos, ainda considerando a problemática vivenciada, os eixos temáticos listados a seguir resultaram nos seguintes indicativos de trabalho de grupo por eixo temático:
I - Trabalho, emprego e renda
- Formação em Associativismo e Cooperativismo dentro da perspectiva de Economia Solidária e do MNCR: os princípios, valores e conceitos da Autogestão, como transversalidade em de todos os projetos;
- Formação das lideranças em Economia Solidária;
- Formação para gestão de negócios sustentáveis e solidários;
- Formação na consciência de categoria enquanto classe: ser catador;
- Elaborar estudos da cadeia produtiva e da rede solidária de comercialização;
- Formação de Assessoria Técnica e de gestores em Economia Solidária no acompanhamento das catadoras e catadores;
- Que a gestão pública garanta a logística na destinação seletiva e solidária dentro do Decreto 5.940/2006;
- Criação de Decretos municipais e estaduais a exemplo do Decreto 5.940;
- Garantir o acesso aos filhos e filhas das catadoras e catadores rurais e urbanos a inclusão no Programa Jovem Aprendiz;
- Construção de creches para atendimento aos filhos e filhas das catadoras em todos os municípios que compõe os estados da Amazônia Legal.
II – Fechamento dos lixões
- Garantir o registro civil e cadastramento de todas famílias de catadoras e catadores no Cad-Único;
- Exigir que o poder público, durante o processo de fechamentos dos lixões, garantam uma série de ações de infraestrutura (galpão, centro de triagem e equipamentos), apoio na área da assistência social, saúde e moradia para que seja garantido aos catadores condições digna para trabalhar na coleta seletiva e na triagem dos materiais;
- Incluir e priorizar os catadores e catadoras no "Programa Minha Casa Minha Vida";
- Garantir formação para qualificar os catadores dos lixões nos processos de coleta seletiva solidária na cidade;
- Antes de fechar os lixões é preciso garantir que as prefeituras firmem de fato os convênios com as cooperativas e associações, conforme previsto na Lei 8.666/1993, regulamentada pela Lei 11.445/2007 Além de providenciar uma grande campanha de conscientização da população do município para separação e coleta seletiva;
- Sensibilizar os parlamentares da Amazônia Legal para aprovação do PL que tramita no Congresso Nacional sobre aposentadoria especial para a categoria dos catadores;
- Implementação de fato da Agenda Ambiental da Administração Pública A3P e a logística reversa;
- Exigir dos órgãos públicos o cumprimento do Decreto. 5.940/2006 que dispõe sobre a destinação dos resíduos sólidos recicláveis para as associações e cooperativas de catadores/as;
- Conscientização dos catadores para a importância da legalização dos empreendimentos;
- Exigir das prefeituras o cumprimento da Lei 12.305/2010 PNRS garantindo e condições de trabalho decente para os catadores e catadoras, após o fechamento do lixão;
- Garantir creches próximas aos locais de trabalho para as famílias das catadoras.
III – Contratação pelos serviços prestados
- Investimento público na Estruturação dos grupos pertencentes à Amazônia Legal considerando cada realidade específica. (Recursos públicos no âmbito Federal, Estadual e Municipal direcionado para as Organizações de Catadores para Investimento em Infraestrutura de Galpões de Triagem em Terrenos Públicos; além de Investimentos em transporte terrestre e fluvial, equipamentos e máquinas para a Coleta Seletiva Solidária);
- Investimento em Formação e Capacitação dos membros que compõe as organizações de catadores da Amazônia Legal;
- Priorizar a contratação de assessoria técnica para apoio e fortalecimento das organizações de catadores/as;
- Investimento em Polos Regionais para Armazenamento, Escoamento e Venda dos Materiais Recicláveis das Organizações de Catadores da Amazônia Legal;
- Garantir a contratação das Associações e Cooperativas pelas Prefeituras, conforme disposto no Plano Nacional Saneamento Básico (PNSB), a dispensa de licitação e na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS);
- Lei Municipal que garanta a execução da Coleta Seletiva Solidária com a inclusão das Cooperativas e Associações de Catadoras e Catadores;
- Priorizar os Acordos Setorias da Logística Reversa na Amazônia Legal, para fomentar a cadeia da reciclagem na região, com o pagamento para as Organizações de Catadores pelo Mecanismo dos Créditos Ambientais;
As 250 catadoras e catadores participantes do encontro que representam o conjunto do Movimento dos seus respectivos estados da Amazônia Legal, responsabilizam os diferentes níveis de governo, o setor privado e as instituições da sociedade civil, pela observância das considerações , recomendações e reivindicações da presente carta.
Cumpre lembrar que no referido Encontro (I ECAL) também foi constituída uma comissão provisória de catadoras/es representantes dos nove estados da Amazônia Legal, sendo abaixo descrito os nomes indicados para a compor a comissão:
Estado | Representante | Empreendimento |
---|---|---|
AMAZONAS | Irineide Lima | Eco-Cooperativa |
ACRE | José Nazário Gomes Pereira | CATAR |
AMAPÁ | Artuzias Manoel de Souza | Associação dos Catadores de Macapá - ACAM |
MARANHÃO | Maria Jose Castro | COOPRESL |
MATO GROSSO | Gema Livinali Ecco | COOPEMAR |
PARÁ | Breno Augusto Silva Moraes | GRUPO DE CATADORES DO LIXÃO DO AURÁ |
RORAIMA | Rogério Pereira da Silva | UNIRENDA |
RONDÔNIA | Raimundo Moreno Santos | UNIDOS PELA VIDA |
TOCANTINS | Maria Edileuza Soares Mendes | COOPCAMPA |
As considerações, recomendações e reivindicações contidas neste documento, serão avaliadas no II Encontro de Catadores da Amazônia Legal que, por deliberação das lideranças que se reuniram e por meio de sorteio, apresentaram à assembleia a proposta de realização do referido evento em 2014, no estado do Acre, mantendo a periodicidade anual. Esta proposta está aclamada pela Assembleia.