Do lixão à Coleta Seletiva Solidária
Uma cerimônia repleta de fortes emoções e significados marcaram à tarde do dia 11 de julho, no extremo sul do Brasil. No salão nobre da Prefeitura Municipal de Uruguaiana ocorreu a assinatura do contrato entre a Associação dos Catadores Amigos da Natureza-ACLAN e a Prefeitura Municipal de Uruguaiana para prestação do serviço de Coleta Seletiva Solidária no município. Além da presença dos catadores e catadoras, o momento também foi celebrado por uma diversidade de sindicatos e associações populares da cidade: Movimento negro de Uruguaiana, Gabinete da igualdade racial de Uruguaiana, Conselho Estadual dos Povos de Terreira, Conselho da Comunidade da Execução Penal, Sindicomerciários, Sitramico, Mensageiros de Luz e Associação dos Pescadores de Uruguaiana.
O evento iniciou com a formação da mesa oficial, composta pela catadora e coordenadora da ACLAN Maria Tugira, pelo prefeito municipal
Luiz Augusto Schneider, o Bispo Dom Aloísio Dilli e o vereador Carlos Eduardo Espindola Alves representando a Câmara de Vereadores e a vice- prefeita Neraí Santos Kaufmann.
A primeira fala foi da coordenadora da Aclan, que resgatou um pouco da história de luta dos catadores (as) de Uruguaiana, dos momentos difíceis, do sofrimento comum, mas também da crença em dias melhores.
“Durante muito tempo esta realidade (lixão) parecia não fazer parte da cidade, mas graças ao empenho de todos que acreditam na transformação social este momento hoje é possível, muito obrigado a todos e todas que fazem parte desta história. E aos que estão chegando agora agradeço e convido para prosseguirmos juntos nesta construção, que faz parte desta luta por uma sociedade justa e digna pra todos e todas”, falou a catadora Maria Tugira, comovendo a todos os presentes.
Em seguida também muito emocionado, Dom Aloísio, se dirigiu diretamente aos catadores (as) presentes e os parabenizou pela coragem de serem protagonistas de sua própria história, e que é isso que faz as coisas acontecerem, e pediu a eles que não parassem por aí.
“não parem por aí, honrem a bandeira de vocês”, salientou o Bispo. Ele também ressaltou que com este exemplo não é só um grupo de pessoas que esta sendo beneficiado, mas sim toda uma sociedade, pois se encaminha uma questão social e ambiental. No final de sua fala Dom Aloísio lembrou uma reflexão muito propicia para o momento sobre o real significado de sua fé, “louvar a Deus não é só rezar o Pai Nosso ou a Ave Maria, mas sim dignificar a vida humana, quando tornamos a vida das pessoas mais dignas,estamos louvando a Deus”, concluiu o Bispo.
O próximo a fazer uso da palavra foi o representante do Legislativo Municipal.
“Queremos parabenizar a todos pela iniciativa e dizer que a Câmara de Vereadores é parceira deste projeto e estará a disposição no que for preciso para que tenha êxito", disse o vereador Carlos Eduardo.
Para finalizar as falas o Prefeito Municipal, falou sobre as dificuldades de se mexer na estrutura do serviço de limpeza urbana, “existem vários obstáculos, um deles é o financeiro, mas estamos com a consciência tranqüila por estarmos fazendo a coisa certa, esta mudança é necessária e estamos muito contentes com o desfecho desta história, que não termina aqui, e que vamos seguir construindo para que ao lado de outros municípios que optaram pela inclusão social possamos construir uma nova história”, comentou o representante do Executivo Municipal.
Logo em seguida se realizou o ato de assinatura do contrato, selando este dia histórico da fronteira oeste do Rio Grande do Sul.
Uruguaiana se torna pioneira na região por ser o primeiro município a contratar uma organização de catadores (as) para prestar uma parte do serviço de limpeza urbana.
Uma conquista aos olhos do mundo
A luta dos catadores de Uruguaiana não é de hoje, há décadas que as cerca de 200 famílias que sobrevivem dos materiais catados no lixão buscavam melhorar sua situação. Mas a situação se agravou com a ameaça de fechamento do lixão, previsto para agosto deste ano (2014), sem nenhuma alternativa concreta para os catadores (as).
Frente a isso o Movimento Nacional de Catadores-MNCR, do qual a Aclan é base integrante, organizou uma campanha internacional de solidariedade aos catadores de Uruguaiana, que contou com grande repercussão e apoio de distintas partes do País e do mundo.
“Foram vários seminários, negociações com todas as esferas de governo, ações diretas, principalmente a última que realizamos (fechamento do lixão), enfim um conjunto de ações que resultaram nesta conquista, que é de todos e todas que lutam”, comenta a catadora e militante do MNCR Dona Maria Tugira.
Próximos passos
Esta sendo construído ao lado do lixão municipal que será fechado, um galpão para abrigar os catadores. O galpão foi financiado pelo Governo Estadual. Além disso, esta sendo feita a aquisição de equipamentos, através do apoio do Governo Federal. Enquanto este galpão não fica pronto, a Prefeitura Municipal disponibilizou um Galpão na área central da cidade para que a Aclan inicie as suas atividades. Os catadores (as) também estão realizando capacitação para iniciar o trabalho, através do MNCR e apoio da Fundação Luterana de Diaconia-FLD.
A Coleta Seletiva Solidária inicialmente atingirá nove bairros da cidade e será gradativamente ampliada de acordo com a consolidação e desenvolvimento do serviço.
Fonte: assessoria de comunicação MNCR.