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Ato das Mulheres em Porto Alegre

Foi as ruas mostrar que não temos o que comemorar no dia da mulher. Afinal, na luta por terra, trabalho, educação e saúde, as mulheres têm sido sufocadas e reprimidas. Bem diriam as companheiras trabalhadoras do campo que um dia antes haviam  ocupado uma fazenda de cultivo ilegal de eucalipto em Rosário do Sul, de propriedade da transnacional sueco-finlandesa Stora Enso, enfrentando por isso dura repressão.

  

As mulheres no dia 8

Não tem o que comemorar

Se ontem foram queimadas

Hoje seguem a lutar

 

No campo elas são reprimidas

Na rua não são ouvidas

Todo dia é nosso dia

A vida não se negocia

 

A gente não quer muito

A gente só quer tudo

Água, campo, trabalho

Saúde, cultura, educação

Na mesa alface, tomate e

arroz com feijão!

O ato urbano reuniu companheiras do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável, Resistência Popular, Movimento dos Trabalhadores Desempregados, Levante da Juventude Sindicato dos Municipários de Cachoeirinha e o Grupo de Teatro Oi Nóis Aqui Traveiz. A proposta foi construída em plenária de mulheres realizada durante o ELAOPA - Encontro Latino Americano de Organizações Populares Autônomas.

Reunindo mais de 100 mulheres, o ato se concentrou em frente ao teatro São Pedro no centro de Porto Alegre, onde a governadora do RS Yeda Crusius iria entregar o troféu "Ana Terra" para 25 mulheres. Troféu para umas, chumbo para outras.   A governadora não teve coragem de passar pela manifestação e entrou pelas portas dos fundos apoiada pelo Pelotão de Choque.

As companheiras do teatro e as catadoras realizaram um teatro sobre a origem do 8 de março, a qual as classes dominantes tem pretendido ocultar. Origem que tem a ver com a luta das mulheres trabalhadoras, e não das empresárias e governantes, pertencentes à classe daquele que queimou 129 operárias que faziam greve contra as más condições de trabalho, em 1857. "Para a greve 10, para a greve 100, para a greve filha, e mãe também; para a greve 100, para greve 1000, eu por elas, mãe; e elas por mim" - cantamos, fazendo a versão feminina de um hino histórico. Depois todas colocamos os lenços lilases, símbolo da luta das mulheres. 

Em seguida uniram-se à nós mais de cem companheiras da Via Campesina.  Saudadas por todas, trouxeram informes da situação das companheiras na fronteira, feridas,  sitiadas dentro de um galpão, sem poder alimentar seus filhos, além de uma militante presa. Em uma mística, entregaram suas ferramentas de trabalho às mulheres da cidade. E juntas, reafirmamos que "não há mudança sem liberdade/ ação direta no campo e na cidade".

Enquanto isso, companheiras haviam entrado sem que se notasse dentro do teatro. Lá dentro, para espanto das dondocas e madames, uma companheira se levantou e falou o nosso manifesto que transcrevemos abaixo. Levava no colo um esqueleto que simulava amamentar, simbolizando o que pode acontecer às futuras gerações, se as transnacionais da celulose continuarem transformando nossa terra em deserto.

As companheiras do campo seguiram para o acampamento no Parque Harmonia enquanto nós fomos em direção à prefeitura de Porto Alegre para apresentar nossas reivindicações. O teatro apresentou-se mais uma vez. Uma comissão foi recebida, mas não pela representante  da Governança. Uma outra reunião ficou agendada.

De saldo, fica a necessidade de mais mulheres urbanas colocarem o 8 de março no seu verdadeiro lugar, junto às oprimidas que lutam para gerar um mundo novo. E seguirmos fortes e unidas por nossos direitos de mulher e de povo que estão por ser conquistados, e só virão com protagonismo e ação direta.

 

Nosso manifesto dito no teatro:

Governadora Yeda: Prêmio para a mulher trabalhadora do campo e da cidade é água para os nossos filhos daqui a quarenta anos.   Nós precisamos é de arroz, feijão, milho, aipim, batata, alface, tomate. Não eucalipto. Eucalipto seca o nosso solo. Eucalipto não se come e atende a interesses econômicos de grandes empresas transnacionais enquanto o nosso povo passa fome. Governadora,  todas nós pagamos impostos e é dever do estado estar atento a saúde, cultura, educação, moradia, trabalho. Ao invés disso os seus investimentos são em construção de penitenciárias para a juventude e repressão policial aos Movimentos Sociais que são trabalhadores organizados na luta por vida digna! Governadora, não reconhecemos mais as ordens que nos esmagam.  A gente não quer muito a gente só quer tudo!

 

Nossas reivindicações:

 - Mais creches comunitárias ;

- Por serviços de saúde mental e de tratamento de dependência química;

- Hospital na Restinga;

- Mais unidades básicas de saúde;

- Mais consultas para as especialidades (oftalmologistas, nutricionistas, fonoaudiologia, cardiologistas...);

- Mais investimentos em geração de renda (com cursos que realmente capacitem para o trabalho);

- Investimentos imediatos em alimentação, com fornecimento de cesta básicas para os trabalhadores desempregados e famílias com risco nutricional;

- Que a gestão dos espaços públicos e ociosos tenham gestão de grupos organizados pela comunidade,  para moradia, cultura e geração de renda;

- Mais transporte público e com qualidade;                             

- Albergues para moradores de rua;

- Pontos populares de trabalho;

- Passe Livre para desempregados organizados (do MTD) e seus filhos;

- Livre circulação de carrinhos de catadores no centro.

 

MNCR - RS