Mulheres são maioria entre Catadores de Materiais Recicláveis

A catadora de materiais recicláveis Marilza Aparecida de Lima, questionou publicamente o resultado da pesquisa recente publicada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) durante encontro com a Presidenta Dilma Rousseff em São Paulo no final de 2013. “Somos 70% da categoria, somos mulheres negras e chefes de família”, declarou em referencia a pesquisa que utilizou dados do Censo 2012 do IBGE, analisou o impacto desses trabalhadores e destacou a participação das mulheres nesse contexto.

A pesquisa concluiu que 400 mil trabalhadores se declaram como Catadores de Resíduos, as mulheres representariam 31,1% desse total. Segundo o IPEA, alguns fatores sociológicos podem explicar a discrepância desses dados em relação às estimativas, por exemplo, o fato de algumas mulheres exercerem outras atividades, como o cuidado do lar e da família, e entenderem que a coleta de resíduos seja uma mera atividade complementar. Ou seja, muitas mulheres catadoras não se identificaram com a atividade por manterem a identidade de domésticas ou trabalhadoras do lar como trabalho principal. A pesquisa indica também que as famílias têm cerca de 700 mil crianças sustentadas por meio da renda da coleta de resíduos recicláveis.

O IPEA admite que o número total de catadores pode ser bem maior, uma vez que o Censo considera apenas o que declara o entrevistado, por ser uma profissão ainda pouco valorizada e ainda nova no mercado, uma parte dos trabalhadores não se assumem como profissionais.

Os catadores e catadoras que vivem em situação de rua são invisíveis aos olhos técnicos do IBGE. Como a pesquisa Censo conta as pessoas por domicílio, as pessoas sem teto ou moradores em áreas irregulares não são contabilizados. Isso inclui, ou exclui, os catadores que trabalham e moram em lixões a céu aberto, realidade presente em todo o território nacional e destino certo de 60% dos resíduos gerados hoje no Brasil.

As estimativas do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) indicam o número de 800 mil trabalhadores em atividade hoje no Brasil, entre os quais 70% seriam mulheres.  A estimativa é compatível com os dados do IPEA quando considerada as trabalhadoras que estão organizadas em cooperativas e associações, a maior parte é  negra ou parda, segundo o IPEA.  “Observei nas visitas às cooperativas que elas aparentam ser mais sensíveis a essas organizações e os homens mais refratários a cumprir uma disciplina de trabalho”, explica Albino Rodrigues Alvarez, coordenador da pesquisa do IPEA. “Por isso as mulheres têm assumido a liderança nas cooperativas”, constata.

As catadoras, em muitos casos arrimos de família, são verdadeiras lideranças comunitárias que agregam, conciliam e organizam outros trabalhadores em seu entorno. A função de administradora familiar vai de encontro com a necessidade das organizações autogestionárias (cooperativas e associações) que hoje vem sendo incluídas formalmente nas políticas públicas e fomentadas pelos Governos.  É recorrente a atuação das mulheres do trabalho de triagem e classificação dos materiais, trabalho que é considerado núcleo principal do processo produtivo das organizações de catadores, por isso também é a função que recebe maior pressão interna dentro do empreendimento, além de ser uma atividade pouco valorizada frente a funções consideradas “mais pesadas” como a operação de maquinário, deslocamento, carregamento e transporte de materiais funções considerados masculinas.  É recorrente observar o trabalho feminino sendo pago com valores inferiores aos dos homens.